sábado, 19 de dezembro de 2020

Listen (2020)

Há muito tempo que um filme Português não me cativava tanto pela mensagem, pelo argumento, e pela história tão tocante e real, de uma realidade que talvez muitos de nós que não somos pais (ou mesmo que sejamos), não tínhamos conhecimento. Ana Rocha (que escreveu o filme com Paula Vaccaro e Aaron Brookner) realizou aquele que para mim é o melhor filme Português de sempre, mesmo que parte dele seja falado em Inglês devido ao local de onde se desenrola.

O que podemos esperar de Listen? Uma avassaladora história sobre imigrantes Portugueses a viver nos subúrbios de Londres, que enfrentam sérias dificuldades quando os serviços sociais começam a preocupar-se com a segurança das 3 crianças do casal, num dos processos mais desumanos e burocráticos do sistema social Inglês, que impiedosamente pode cometer grosseiros erros que marcam famílias para sempre. Esse casal é interpretado por Lúcia Moniz (que está brilhante no filme), e Ruben Garcia.

Existe neste filme para além do impacto no âmbago de qualquer ser humano, uma sensibilidade e sinceridade raras, existe afecto, existe tremor, existe medo, e existe amor (a rima foi propositada). Independentemente do que outras academias pensem, porque pensam pouco em quem gosta de Cinema, Veneza premiou, e outros festivais de Cinema vão com certeza premiar um filme que merece ser visto por todos, e que merece os nossos mais sinceros elogios. Esta hora e 13 minutos de sagaz intensidade, é uma mensagem de alerta para todas as famílias do mundo: unam-se, e sobretudo "Listen".

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quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Wonder Woman 1984 (2020)

Depois do arrebatador sucesso do primeiro filme, era previsível o regresso de Patty Jenkins como realizadora (que também escreveu o argumento com Geoff Johns e Dave Callaham), e de Gal Gadot como atriz principal para um segundo filme, que voltou a ser produzido pelo duo Zack e Deborah Snyder. Desta vez encontramo-nos em 1984, numa viagem que recupera uma época em que o mundo estava mergulhado num momento tenso devido à Guerra Fria, mas que ao mesmo tempo evoluía vertiginosamente para uma evolução tecnológica.

A palavra chave desta inspirada lição de Humanidade para todas as idades acaba por ser ganância, que liga não só a própria figura central do filme, como também os seus vilões Cheetah, e Max Lord (Kristen Wiig e Pedro Pascal respectivamente), a toda uma trama de emoções sobre poder, sobre dor, e sobre a verdade. Talvez por razões mais egoístas, as personagens vêem-se todas elas a braços com decisões que envolvem coragem e sabedoria, e de como isso pode influenciar tremendamente todos os que estão à nossa volta, mesmo que não tenhamos consciência disso. Apesar do filme se passar nos anos 80, alguns dos problemas sociais de que as mulheres sofreram, e sofrem ainda nos tempos em que estamos, foram representados de forma bastante inteligente, mas acutilante o suficiente para fazer o espectador tremer.

Esta aventura tem um bater de coração próprio, como uma espécie de sonho que o espectador não quer que acabe, e é uma fuga vibrante na direção certa para este tipo de filmes, em que nos tempos que vivemos acaba por ter saído na altura certa, pois se a esperança é algo de que todos nós nos devemos alimentar de, verdade também seria algo bom para acompanhar, numa Era em que deixamos o barulho falar mais alto, não ouvindo os pormenores da razão que tanta falta fazem. Um aconchego heróico.

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segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Dreamland (2019)

Embora seja um filme de 2019, só agora consegui contemplar esta história de um adolescente com sonhos bem para além da sua cidade natal, onde que conhece uma pequena criminosa numa terra onde as leis do faroeste, e o seu ambiente perpétuo ainda estão bem presentes numa vila no interior do Texas, assolada por violentas tempestades de areia.

Miles Joris-Peyrafitte realiza um filme interessante cujo guião foi escrito por Nicolaas Zwart, e que destaca Finn Cole (Eugene Evans) e Margot Robbie (Allison Wells) como o centro de uma trama cujos balanços das suas personagens, e reviravoltas ao longo da película deixam o espectador expectante num filme que à partida poderia não ter muito para mostrar, mas revela-se ser uma agradável surpresa.

Não esquecer Travis Fimmel (George Evans) que revela ser também um actor que se sente como um peixe na água no que toca a Cinema. Em resumo, trata-se de um filme sobre sonhos, ilusões, e de como por vezes é preciso ter bom folgo para dar o passo a seguir na perseguição desse sonho.

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terça-feira, 11 de agosto de 2020

V for Vendetta (2005)

James McTeigue na minha opinião, realizou um dos filmes mais visionários de sempre, escrito pelas irmãs Wachowski Brothers. Num futuro mais ou menos distante, um regime tirano lidera a Grã-Bretanha, mas contra a sua opressão, existe um herói que se move nas sombras, em luta pela liberdade conhecido como V, que com a ajuda de uma jovem, tenta executar um golpe de estado que libertará o povo Britânico.

Parece um filme banal, com um conceito de um qualquer filme de super heróis, mas é tão mais do que isso. É um acordar para os perigos de deixarmos resvalar um dos bens mais preciosos que se tem, que é a Liberdade, para a lama da opressão. Natalie Portman e Hugo Weaving são os principais actores no centro de uma trama contra um gigantesco inimigo, que na verdade é um conjunto deles. Tem a capacidade de mexer com o público nos sítios certos, e de ser um despertar de consciência quando os discursos políticos já não encontram saídas vaiáveis.

Muita acção, a quantidade certa de drama, e frases absolutamente icónicas que fariam corar muitas punchlines do Cinema de acção e aventura, é o que se pode esperar de uma grandiosa ode à Revolução, ao espírito indomável da Liberdade, e do conceito de Democracia que este filme nos transmite, e que foi reconhecido com imensas nomeações em vários festivais de Cinema. É considerado igualmente um dos melhores filmes de sempre (injustamente esquecido pela Academia talvez devido ao seu conceito de filme de super herói), mas em bom abono da verdade, nunca será demais lembrar o 5 de Novembro.

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segunda-feira, 10 de agosto de 2020

The Big Lebowski (1998)

Se a comédia tivesse o nome de um filme, com todo o discurso orientado no sentido de criar algo que não fosse apenas genuína palhaçada, mas também uma história à volta de uma personagem que se veio a tornar icónica com os anos, aliado a um argumento extraordinariamente bem escrito pelos irmãos Cohen (que também realizaram o filme), então esse filme é O Grande Lebowski.

Os diálogos por muito simples e rudimentares que sejam, são a linguagem necessária de um filme que conta a história de como um tipo banal e pacato, que se vê confundido com um magnata com o mesmo nome, sendo que é apanhado por causa disso num imbróglio por causa de dinheiro. Por entre jogos de bowling e white caucasians, conta com os seus dois amigos mais próximos para resolver toda a confusão que se vai desenrolando ao longo do filme, junto do magnata com quem a relação não é propriamente a melhor. Cheio de frases geniais, momentos hilariantes, e uma desconcertante calma que envolve a personagem, Jeff Bridges é bem capaz de ter tido com este filme, o papel da sua vida, ou pelo menos, aquele papel que o vai marcar para sempre junto do grande público, sendo que o filme conta igualmente com as actuações brilhantes de John Goodman, e Julianne Moore.

Esta comédia teve ainda honras de nomeação em vários festivais de Cinema, o que prova que por vezes o parente pobre da 7ª arte, não é apenas um recurso a ser usado aqui e acolá em filmes de outros géneros. Pode ser em toda a sua extensão, um género por si só com enorme qualidade, e tivemos vários exemplos disso nos anos 90, exemplos esses de que falarei em crónicas futuras.

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quarta-feira, 15 de abril de 2020

Red Sparrow (2018)

Numa Europa mergulhada por num clima de tensão e de Guerra Fria, a bailarina Dominika Egorova é recrutada para a escola dos Pardais, uma organização secreta Russa, que treina as suas recrutas de forma dura, mas também de forma a usarem o seu corpo como arma para conseguirem os seus objectivos.

Francis Lawrence dirigiu um filme escrito por Justin Haythe que mostra a dura realidade do perigoso mundo da espionagem, onde toda a informação que sirva para tramar uma organização / País / em nome do poder e do dinheiro depois de um período complicado da história, era vital para qualquer negociata na sombra das instâncias políticas. Jennifer Lawrence tem um dos papéis mais desafiantes de sempre, se não mesmo o mais desafiante até agora da sua carreira, num drama onde acção e thriller dançam um intrínseco tango no fio da navalha.

É na minha opinião um dos melhores filmes de 2018, que prende imediatamente o espectador no seu clima tenso e pesado. Baseado na obra de Jason Matthews, um ex agente que trabalhou durante 33 anos na CIA, este filme sobre espionagem é baseado no primeiro livro da trilogia que viria a lançar, que tem por base alguma da sua experiência como ex agente.


terça-feira, 14 de abril de 2020

Mother! (2017)

Darren Aronofsky escreveu e realizou um dos filmes mais polémicos de 2017, sendo que a película deambula entre um misterioso drama familiar sobre uma família perfeita que vive na mais profunda tranquilidade, e um inquieto teste quando estranhos convidados começam a invadir a sua casa, passando rapidamente de um filme ameno, para um clima de horror e suspense. Sinceramente, achei um dos mais corajosos argumentos que alguma vez foi adaptado ao Cinema.

Jennifer Lawrence e Javier Bardem demonstram neste filme uma estranha cumplicidade com as suas personagens, que são levadas ao limite, sendo que Ed Harris e Michelle Pfeiffer apimentam de forma perturbadora todo o desenrolar da acção com as suas intrigantes personagens, numa viagem entre o angelical e o tenebroso mundo de uma relação conjugal. Recordo-me de que na sessão a que fui, houve gente a sair a meio do filme, ou porque não estavam a gostar do que estavam a ver (o que entendo), ou porque não estavam a aguentar a experiência emocional.

"Mother!" é um filme visceral, sem fronteiras, e sabendo de que isto pode de facto arrancar calafrios a algum público, é muito mais no seu âmbago do que um filme feito abertamente para chocar, e os vários prémios e nomeações em vários festivais de Cinema reconhecem a qualidade, que outros se amedrontaram a reconhecer naquele que considero um dos melhores filmes de 2017. Vejam se forem capazes.



sexta-feira, 10 de abril de 2020

Robocop (1987)

1987, fixem este ano. Podem acreditar ou não, mas o realizador Paul Verhoeven travou uma das mais épicas batalhas contra a censura no Cinema para lançar a melhor versão de sempre do polícia do futuro. Uma versão crua e violenta, mas que se veio a tornar clássica, icónica, e na minha opinião, é um dos melhores filmes de acção de sempre, que mistura igualmente ficção científica, e um certo dramatismo à volta do nascimento desta personagem.

Numa Detroit mergulhada no profundo caos e no crime sem algum tipo de punição, um projecto de um robô polícia ganha forma como sendo a única forma de salvação, quer para uma cidade à beira do colapso, quer para Murphy, que depois da sua morte, se vê ressuscitado num temível e implacável ciborgue assombrado pelas suas memórias humanas. A dupla Edward Neumeier e Michael Miner escreveram um filme que poderia apenas ser uma adaptação morna de uma personagem fantástica, mas a verdade é que o filme é tão intenso como a sua personagem principal.

Caso nunca tenham visto isto, vale a pena despender um pouco de tempo e testemunhar um dos filmes de acção mais marcantes dos anos 80, e que muito contribuiu para a evolução do Cinema de acção, da própria classificação de filmes daí em diante, e começou um franchise que deu ao mundo videojogos, uma série de TV, bandas desenhadas, mais 2 filmes (esqueçamos o reboot por favor), e a saudosa frase: "Dead or alive you're coming with me".



sábado, 4 de abril de 2020

Teenage Mutant Ninja Turtles (1990)

Fez 30 anos esta semana do seu lançamento nos USA, que a dia 30 de Março de 1990 saiu o filme das tartarugas mais conhecidas não só do Cinema, mas também do mundo das bandas desenhadas, embora o filme só tenha chegado a Portugal no Natal desse ano. Todo o ambiente citadino e punk do filme, misturado com a irreverência própria de seres adolescentes que estavam aos poucos a descobrir o mundo lá fora, transformou este filme um daqueles clássicos do Cinema para um público mais jovem que sabe bem recordar.

Não existe nada de muito profundo na história de 4 jovens tartarugas que com os seus conhecimentos de artes marciais, emergem dos esgotos de Nova Iorque para combater um grupo criminoso de ninjas, mas o mais interessante neste filme são as ligações que as personagens vão criando ao longo do mesmo, e de como todo o filme foi montado com actores que vestiram fatos reais, sem recurso a CGI, e de como isso tornou o filme mais bruto e invulgarmente espectacular. No fundo, foi o que foi possível na altura fazer, e o resultado foi bem melhor do que talvez se esperasse.

Realizado por Steve Barron, e escrito pela dupla Todd W. Langen / Bobby Herbeck, para mim é um estranho filme de culto que o tempo encarregou-se de lhe dar um certo fascínio. Foi dos primeiros filmes que vi, e foi também apartir daqui que descobri os videojogos, as bandas desenhadas, e todo o incrível mundo destas tartarugas que tinham mais de humano do que muitos dos Humanos lá fora. E como foi divertido ver a evolução destas personagens ao longo dos anos. Cowabanga!



domingo, 29 de março de 2020

The Devil's Advocate (1997)

Jonathan Lemkin escreveu um brilhante argumento baseado no livro de Andrew Neiderman, que deu origem a um dos melhores filmes dos anos 90, injustamente esquecido pelas areias do tempo. Recordo-me que foi talvez o primeiro filme que vi no Cinema com o Keanu Reeves, e com o Al Pacino.

Este intrigante enredo conta a história de um excepcional advogado da Florida que recebe uma proposta de trabalho extraordinária numa firma de advocacia em Nova Iorque, em que trabalhará muito próximo do seu patrão, e tudo o que poderia ser um autentico conto de fadas numa cidade incrível, acaba por ficar assombrado por uma série de acontecimentos bizarros que vão acrescentando a este thriller uma tensão enorme que transborda de forma muito natural para o espectador.

Num drama brilhante de onde se destacam as interpretações de Keanu Reeves, Al Pacino, e Charlize Theron, este filme que envolve também um certo mistério venceu o teste do tempo, e ainda hoje em dia considero dos melhores filmes de sempre, que apesar dos vários prémios que venceu, foi entre muitos outros ao longo dos anos, esquecido por outras Academias. Nada que belisque o tremendo clímax que é assistir a esta grande película.



sexta-feira, 27 de março de 2020

The Runaways (2010)

Este filme biográfico é muito mais do que um retracto sobre a primeira banda de rock formada apenas por mulheres, das suas lutas, dificuldades naturais aliadas às dores de qualquer começo, e às peripécias de nos anos 70 de se mulher num género liderado por homens, e ter que por o pé na porta com a pujança exigida ao género musical que pretendiam tocar, e que o tocaram de forma a revolucionar para sempre o rock.

É o retrato da luta contra o conservadorismo, contra algum preconceito, contra todas as probabilidades que estavam a desfavor do grupo, e o inevitável choque de personalidades que levou a alguns dos conflitos mais intensos no seio do rock, entre Cherie Currie e Joan Jett, interpretadas por Dakota Fanning, e Kristen Stewart respectivamente.

Baseado no livro de Cherie Currie, e escrito por Floria Sigismondi (que também assina a realização do filme), é um dos relatos mais fieis do que seriam os loucos anos 70 dentro do universo do rock n'roll, onde tudo estava à mão de semear no que toca a experimentar e fazer coisas arrojadas dentro deste estilo de música, em que num segundo se subia ao topo da montanha, e no segundo a seguir caia tudo que nem baralhos de cartas. Aconselho vivamente para fãs da banda como eu.



sábado, 21 de março de 2020

1917 (2019)

6 de Abril de 1917. Nesta data, durante a Primeira Grande Guerra, 2 soldados partem em missão numa verdadeira corrida contra o tempo para entregar uma mensagem a um regimento de infantaria Britânica que se preparava para atacar território inimigo, salvando assim 1600 homens de uma morte certa preparada pelo exército inimigo. 

Sam Mendes, que realizou o filme e escreveu este argumento (juntamente com Krysty Wilson-Cairns), baseou-se nas histórias do seu avô para criar este empolgante épico sobre coragem, medo, e superação, para que a Humanidade nunca se esqueça de que mesmo em tempos tiranos que nos roubam toda a esperança, o melhor dos Homens vem ao de cima através de actos de verdadeira Humanidade, numa vertiginosa corrida contra um dos nossos maiores inimigos: o tempo. E como ele é precioso, enquanto o espectador é mergulhado no desespero da guerra. Sem pausas.

A música de Thomas Newman é sem dúvida um dos pontos altos do filme, assim como a brilhante cinematografia de Roger Deakins, que dá a ideia de que todo o filme se desenvolve num único plano, e numa única cena, sem esquecer na minha opinião, outro grande ponto alto do filme que é a interpretação de George MacKay (Lance Corporal Schofield), cuja alma da personagem brota do mais infértil solo para transmitir toda a agonia vivida durante esta fustigante viagem. Sam Mendes dá ao mundo uma história que pode inspirar a Humanidade em ter vontade de se tornar mais humana, e como isso em tempos de quarentena pode ser vital para o nosso amanhã.



quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Marriage Story (2019)

Drama com alicerces seguros de compaixão, comédia suave, e romance sem ser previsível é o que se pode esperar deste filme, realizado por Noah Baumbach, que igualmente escreveu um brilhante argumento sobre um casal que enfrenta a deterioração progressiva do seu casamento até ao divórcio, passando por todas as fases duras e complicadas aliadas a este tipo de situação tão fracturante na vida de qualquer pessoa. Mais um filme que foi parar directamente à Netflix, plataforma de streaming que tem apostado muito no Cinema de autor, e que apresenta aqui um título com bastante qualidade.

No meio deste agitado conflicto entre um casal que apesar de tudo ainda quer salvar algo da relação, transborda uma certa ternura misturada com amargura, uma espécie de sentimento quase palpável e ao mesmo tempo tão distante que outrora uniu, mas que agora cria problemas e desconforto à volta destas personagens Charlie e Nicole, interpretados brilhantemente por Adam Driver e Scarlett Johansson respectivamente. Um dos grandes papéis do filme, é também o de Laura Dern que interpreta Nora Fanshaw, a advogada que representa Nicole no processo de divórcio.

É uma história cabal de como mesmo que ambas as pessoas já não se amem, podem derrubar os mesmos muros juntos para ultrapassar o turbilhão que se gerou no seio da relação, em nome do que outrora um dia os uniu. 2019 foi um ano extraordinário para o Cinema por variadíssimos motivos, e a prova é que estamos em 2020, e continuo a descobrir filmes de 2019 que me estão a tocar nos pontos certos, mesmo que por vezes não sejam o meu género de filmes, como à partida não seria este. Mas ainda bem que vi isto, e acho que qualquer pessoa que já amou alguém devia fazê-lo também, porque nunca é tarde demais para nos salvarmos a nós próprios.


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Birds of Prey and the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn (2020)

Este projecto de Margot Robbie (que também produziu o filme) deu à sua personagem Harley Quinn uma dimensão de especial destaque, num filme onde heroínas e vilões vivem uma anárquica história que entrelaça a viragem na vida de Harley Quinn, que decidiu deixar o seu passado no passado, com outras histórias de sobrevivência de mulheres que se vêem a braços com um objectivo em comum, caso queiram viver. Essas mulheres são Renee Montoya (Rosie Perez), Huntress (Mary Elizabeth Winstead), Black Canary (Jurnee Smollett-Bell), e Ella Jay Basco (Cassandra Cain). O vilão Black Mask, interpretado por Ewan McGregor, que ao contrário do que esperava, tornou-se uma excelente escolha para o papel.

Escrito por Christina Hodson, e realizado por Cathy Yan, é um filme que deixa sobressair de forma natural o poder das actrizes e das suas personagens, com uma subtileza afiada na comédia cavalgante e firmeza nas suas mirabolantes partes de acção, que traz para o género algo que só uma equipa de personagens femininas consegue: uma perspectiva original do que é lutar neste mundo sendo mulher. A profundidade e remodelação destas personagens da DC para este caótico novo mundo, é talvez o que salta à vista num maníaco circo de voltas e mais voltas, onde as aves de rapina têm, apesar do foco ser na Harley Quinn, o seu próprio espaço para contar a sua história, e deixar água na boca por mais. Houve dois temas que foram escolhidos para encaixar no filme, à parte daquelas músicas que foram lançadas na banda sonora original, que me surpreenderam por serem mais rock e menos artificiais (e que músicas que foram escolhidas!). Voltando a Margot Robbie, talvez ela nunca venha a ser reconhecida com prémios de Cinema por interpretar esta personagem, mas este filme é a confirmação de que ela será sempre lembrada por todos como "a Harley Quinn".

O filme é feito de um conjunto de pequenos detalhes humorísticos, de carismáticas referências às bandas desenhadas, de pequenos pormenores que brilham no escuro, e de muitos doces de vários sabores, que no final tornam este filme apetecível para todo o público, mesmo sendo um filme "rated R" vindo de um mundo de super heróis. E isso, também é uma vitória da equipa que trabalhou no filme, que não teve medo de arriscar, e apresentou a viagem até ao ponto de encontro destas personagens, numa fórmula que tem tanto de punk rock, como de festa juvenil, em que a fronteira entre a comédia e a acção oferecem doses de puro entretenimento e adrenalina, sem a necessidade de aumentar o ritmo do filme para que as emoções das personagens não se percam no meio dos foguetes, das margaritas, e das sandes de ovo.



segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Life of Brian (1979)

Este hilariante filme da equipa Monthy Python é o reflexo de uma das maiores revoluções no humor, não só na história do Cinema, como na sociedade também, e talvez por não se aperceberem disso, tudo neste filme não só agora mas na altura mas também agora, continua fresco, tremendamente divertido, e com rasgos de génio que só grandes comediantes conseguem ter. Um dos filmes que fez despertar o meu gosto pela comédia.

O argumento que transforma a vida de Brian num tormento para o próprio, conta a história dele mesmo que nasce no dia de Natal, ao lado do estábulo de Jesus, sendo constantemente confundido com o "messias" que nasceu nesse mesmo dia. A partir daqui, o carrossel de reboliço que é este argumento vindo da imaginação de Graham Chapman, John Cleese, Terry Gilliam, Eric Idle, Michael Palin, e Terry Jones (que realizou o filme), transforma este filme numa das comédias mais fantásticas de sempre.

Não querendo deixar de assinalar a passagem de Terry Jones, um dos maiores génios da comédia de sempre, este filme é talvez o que me mais me marcou não só de Monthy Python, como também como filme de comédia em geral, ombreando apesar de ser um filme dos anos 70, com algumas das melhores comédias que se fizeram bem depois disso, porque o que aqui está, é algo que faz qualquer pedra rir a bom rir.



quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Jojo Rabbit (2019)

O ponto de partida desta corajosa comédia que relata os acontecimentos de um jovem no exército de Hitler, quando este descobre que a sua mãe esconde uma rapariga Judia em casa é talvez dos pontos de partida com mais risco de dar para o torto, devido ao contexto histórico e à época tenebrosa que a Humanidade viveu por esta altura. Nada que assuste Taika Waititi, que realizou e escreveu um dos argumentos mais arrojados que balança entre o humor e o drama de forma mordaz e consciente.

Apresentar uma sátira que se passa numa época tão negra da História desta forma, é uma demonstração de bravura fantástica, mesmo envolvendo uma das suas mais horríveis figuras em momentos hilariantes, com uma mecânica de envolve nacionalismo, populismo, conceitos simples que ligam humanos a humanos, e a inocência própria de quem ainda acredita que consegue apresentar uma comédia original numa altura em que existem massas cada vez mais intoxicadas por opiniões bacocas, de que não se brinca com isto ou com aquilo. É arte, e ela será sempre provocatória, e a inteligência empregue por Taika Waititi (Hitler), Scarlet Johansson (Rosie), Roman Griffin Davis (Jojo), e Thomasin McKenzie (Elsa), às personagens deste filme prova isso mesmo.

Apesar das enormes pressões que Taika Waititi sofreu para não levar isto até ao fim, não existe aqui nenhum tipo de glorificação a regimes tiranos, e felizmente que o filme viu a luz do dia, e a Academia dos Oscares (à altura desta crónica) reconheceu o nível de excelência desta sátira nomeando o filme para 6 categorias (Melhor Filme, Melhor Atriz Secundária, Melhor Argumento Adaptado, Melhor Guarda Roupa, Melhor Produção, e Melhor Edição de Imagem). Vejam de espírito aberto uma das melhores comédias de sempre da história do Cinema.



sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Bombshell (2019)

O escândalo sexual da estação Fox News que muita tinta fez correr, deu origem um filme que mostra muito mais do que a luta de um grupo de mulheres contra Roger Ailes, na altura o chefe da estação de notícias mais influente dos Estados Unidos, e a atmosfera tóxica que se viva na redacção do famoso canal. Neste filme de Jay Roach, cujo argumento foi escrito por Charles Randolph, podemos ver e sentir como essa atmosfera pode estar tão intensamente e perigosamente presente em qualquer lado, moldando os jogos de poder, e até a verdade sobre tudo o que lemos, vimos, e ouvimos.

Para dar corpo a esta que foi uma das maiores polémicas de sempre na sociedade Americana, foram chamadas verdadeiras majestades da interpretação: Charlize Theron (Megyn Kelly), Nicole Kidman (Gretchen Carlson), e Margot Robbie (Kayla Pospisil), que se vão ora entrelaçando, ora desenrolando o novelo de uma história que vive do choque, do abuso do poder sobre a figura da Mulher, da corrupção, e da teia de influências montada em torno de uma redacção cujo propósito não seria somente informar. E o filme vive muito desse perigoso cocktail, e das interpretações destas mulheres, que demonstram muito mais do que coragem e emancipação, perante toda a tensão que o filme transmite.

Muitos movimentos feministas surgiram depois deste escândalo, entre correntes de opinião sobre tudo o que passou sobre isto, e este filme veio também no seguimento de toda essa torrente, e é um retrato fiel do tráfico de influências que é gerado em favor de um minoria que pretende controlar a maioria, porque a liberdade de expressão é uma arma ainda muito mal vista na sociedade, perante o medo e o receio dominantes, aliados a um perverso sexismo. Uma bomba sobre igualdade.



domingo, 5 de janeiro de 2020

Bumblebee (2018)

O franchise dos Transformers teve neste "spin-off" a salvação de que procurava à já algum tempo. Começando por quem pegou neste projecto com pouca probabilidade de sucesso, Michael Bay desta vez ficou-se apenas pela produção, solicitando ajuda a Steven Spielberg, que introduz uma injecção de adrenalina no ritmo do filme, um saudosismo típico dos 80's, e todos os pormenores à Spielberg que saltam à vista um pouco por todo o desenrolar do argumento, sem o constante recorrer a CGI e efeitos especiais.

A relação humana entre a adolescente e a máquina B-127, é das coisas mais tocantes feitas nos últimos anos em termos de cinema, sendo que por entre esses momentos de amizade à prova de tudo o que o Universo pudesse atirar contra ambos, existe um sentimento "retro" que os fãs das séries de animação "Transformers" vão com certeza adorar. Talvez não só devido à influência de Spielberg, mas também ao facto do argumento ter sido escrito por uma mulher, Christina Hodson, se possa explicar o porquê da relação entre ambos funcionar tão bem, e também o orgânico brotar de acção que nunca fica presa num determinado momento, em que as lutas dos gigantescos robôs estão mais emocionantes que nunca, aliando deliciosos momentos de comédia à mistura, sendo que não me recordo de ter visto um argumento escrito por mulheres num últimos anos, algo que espero que mude.

Este filme encaixa muito bem no espírito juvenil da década de 80, mas ganha pontos também pela incrível e ecléctica banda sonora, pelo guarda roupa simples mas fulcral da Charlie, e por toda a magia de que é lembrar-mo-nos de como foi ter o primeiro carro. Revi-me bastante na Charlie em variadíssimos momentos, seja devido a referências musicais, seja devido a memórias pessoais, ou seja devido ao facto de ela ser uma representação fiel de parte da minha adolescência. Tudo funciona bem neste filme, e será bem difícil esquecerem o final, provando que o típico elenco de filme de Domingo à tarde cai bem que nem ginjas, provando que por vezes o simples consegue elevar-se a um patamar invulgar de excelência.