quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Marriage Story (2019)

Drama com alicerces seguros de compaixão, comédia suave, e romance sem ser previsível é o que se pode esperar deste filme, realizado por Noah Baumbach, que igualmente escreveu um brilhante argumento sobre um casal que enfrenta a deterioração progressiva do seu casamento até ao divórcio, passando por todas as fases duras e complicadas aliadas a este tipo de situação tão fracturante na vida de qualquer pessoa. Mais um filme que foi parar directamente à Netflix, plataforma de streaming que tem apostado muito no Cinema de autor, e que apresenta aqui um título com bastante qualidade.

No meio deste agitado conflicto entre um casal que apesar de tudo ainda quer salvar algo da relação, transborda uma certa ternura misturada com amargura, uma espécie de sentimento quase palpável e ao mesmo tempo tão distante que outrora uniu, mas que agora cria problemas e desconforto à volta destas personagens Charlie e Nicole, interpretados brilhantemente por Adam Driver e Scarlett Johansson respectivamente. Um dos grandes papéis do filme, é também o de Laura Dern que interpreta Nora Fanshaw, a advogada que representa Nicole no processo de divórcio.

É uma história cabal de como mesmo que ambas as pessoas já não se amem, podem derrubar os mesmos muros juntos para ultrapassar o turbilhão que se gerou no seio da relação, em nome do que outrora um dia os uniu. 2019 foi um ano extraordinário para o Cinema por variadíssimos motivos, e a prova é que estamos em 2020, e continuo a descobrir filmes de 2019 que me estão a tocar nos pontos certos, mesmo que por vezes não sejam o meu género de filmes, como à partida não seria este. Mas ainda bem que vi isto, e acho que qualquer pessoa que já amou alguém devia fazê-lo também, porque nunca é tarde demais para nos salvarmos a nós próprios.


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Birds of Prey and the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn (2020)

Este projecto de Margot Robbie (que também produziu o filme) deu à sua personagem Harley Quinn uma dimensão de especial destaque, num filme onde heroínas e vilões vivem uma anárquica história que entrelaça a viragem na vida de Harley Quinn, que decidiu deixar o seu passado no passado, com outras histórias de sobrevivência de mulheres que se vêem a braços com um objectivo em comum, caso queiram viver. Essas mulheres são Renee Montoya (Rosie Perez), Huntress (Mary Elizabeth Winstead), Black Canary (Jurnee Smollett-Bell), e Ella Jay Basco (Cassandra Cain). O vilão Black Mask, interpretado por Ewan McGregor, que ao contrário do que esperava, tornou-se uma excelente escolha para o papel.

Escrito por Christina Hodson, e realizado por Cathy Yan, é um filme que deixa sobressair de forma natural o poder das actrizes e das suas personagens, com uma subtileza afiada na comédia cavalgante e firmeza nas suas mirabolantes partes de acção, que traz para o género algo que só uma equipa de personagens femininas consegue: uma perspectiva original do que é lutar neste mundo sendo mulher. A profundidade e remodelação destas personagens da DC para este caótico novo mundo, é talvez o que salta à vista num maníaco circo de voltas e mais voltas, onde as aves de rapina têm, apesar do foco ser na Harley Quinn, o seu próprio espaço para contar a sua história, e deixar água na boca por mais. Houve dois temas que foram escolhidos para encaixar no filme, à parte daquelas músicas que foram lançadas na banda sonora original, que me surpreenderam por serem mais rock e menos artificiais (e que músicas que foram escolhidas!). Voltando a Margot Robbie, talvez ela nunca venha a ser reconhecida com prémios de Cinema por interpretar esta personagem, mas este filme é a confirmação de que ela será sempre lembrada por todos como "a Harley Quinn".

O filme é feito de um conjunto de pequenos detalhes humorísticos, de carismáticas referências às bandas desenhadas, de pequenos pormenores que brilham no escuro, e de muitos doces de vários sabores, que no final tornam este filme apetecível para todo o público, mesmo sendo um filme "rated R" vindo de um mundo de super heróis. E isso, também é uma vitória da equipa que trabalhou no filme, que não teve medo de arriscar, e apresentou a viagem até ao ponto de encontro destas personagens, numa fórmula que tem tanto de punk rock, como de festa juvenil, em que a fronteira entre a comédia e a acção oferecem doses de puro entretenimento e adrenalina, sem a necessidade de aumentar o ritmo do filme para que as emoções das personagens não se percam no meio dos foguetes, das margaritas, e das sandes de ovo.