sábado, 19 de dezembro de 2020

Listen (2020)

Há muito tempo que um filme Português não me cativava tanto pela mensagem, pelo argumento, e pela história tão tocante e real, de uma realidade que talvez muitos de nós que não somos pais (ou mesmo que sejamos), não tínhamos conhecimento. Ana Rocha (que escreveu o filme com Paula Vaccaro e Aaron Brookner) realizou aquele que para mim é o melhor filme Português de sempre, mesmo que parte dele seja falado em Inglês devido ao local de onde se desenrola.

O que podemos esperar de Listen? Uma avassaladora história sobre imigrantes Portugueses a viver nos subúrbios de Londres, que enfrentam sérias dificuldades quando os serviços sociais começam a preocupar-se com a segurança das 3 crianças do casal, num dos processos mais desumanos e burocráticos do sistema social Inglês, que impiedosamente pode cometer grosseiros erros que marcam famílias para sempre. Esse casal é interpretado por Lúcia Moniz (que está brilhante no filme), e Ruben Garcia.

Existe neste filme para além do impacto no âmbago de qualquer ser humano, uma sensibilidade e sinceridade raras, existe afecto, existe tremor, existe medo, e existe amor (a rima foi propositada). Independentemente do que outras academias pensem, porque pensam pouco em quem gosta de Cinema, Veneza premiou, e outros festivais de Cinema vão com certeza premiar um filme que merece ser visto por todos, e que merece os nossos mais sinceros elogios. Esta hora e 13 minutos de sagaz intensidade, é uma mensagem de alerta para todas as famílias do mundo: unam-se, e sobretudo "Listen".

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quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Wonder Woman 1984 (2020)

Depois do arrebatador sucesso do primeiro filme, era previsível o regresso de Patty Jenkins como realizadora (que também escreveu o argumento com Geoff Johns e Dave Callaham), e de Gal Gadot como atriz principal para um segundo filme, que voltou a ser produzido pelo duo Zack e Deborah Snyder. Desta vez encontramo-nos em 1984, numa viagem que recupera uma época em que o mundo estava mergulhado num momento tenso devido à Guerra Fria, mas que ao mesmo tempo evoluía vertiginosamente para uma evolução tecnológica.

A palavra chave desta inspirada lição de Humanidade para todas as idades acaba por ser ganância, que liga não só a própria figura central do filme, como também os seus vilões Cheetah, e Max Lord (Kristen Wiig e Pedro Pascal respectivamente), a toda uma trama de emoções sobre poder, sobre dor, e sobre a verdade. Talvez por razões mais egoístas, as personagens vêem-se todas elas a braços com decisões que envolvem coragem e sabedoria, e de como isso pode influenciar tremendamente todos os que estão à nossa volta, mesmo que não tenhamos consciência disso. Apesar do filme se passar nos anos 80, alguns dos problemas sociais de que as mulheres sofreram, e sofrem ainda nos tempos em que estamos, foram representados de forma bastante inteligente, mas acutilante o suficiente para fazer o espectador tremer.

Esta aventura tem um bater de coração próprio, como uma espécie de sonho que o espectador não quer que acabe, e é uma fuga vibrante na direção certa para este tipo de filmes, em que nos tempos que vivemos acaba por ter saído na altura certa, pois se a esperança é algo de que todos nós nos devemos alimentar de, verdade também seria algo bom para acompanhar, numa Era em que deixamos o barulho falar mais alto, não ouvindo os pormenores da razão que tanta falta fazem. Um aconchego heróico.

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segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Dreamland (2019)

Embora seja um filme de 2019, só agora consegui contemplar esta história de um adolescente com sonhos bem para além da sua cidade natal, onde que conhece uma pequena criminosa numa terra onde as leis do faroeste, e o seu ambiente perpétuo ainda estão bem presentes numa vila no interior do Texas, assolada por violentas tempestades de areia.

Miles Joris-Peyrafitte realiza um filme interessante cujo guião foi escrito por Nicolaas Zwart, e que destaca Finn Cole (Eugene Evans) e Margot Robbie (Allison Wells) como o centro de uma trama cujos balanços das suas personagens, e reviravoltas ao longo da película deixam o espectador expectante num filme que à partida poderia não ter muito para mostrar, mas revela-se ser uma agradável surpresa.

Não esquecer Travis Fimmel (George Evans) que revela ser também um actor que se sente como um peixe na água no que toca a Cinema. Em resumo, trata-se de um filme sobre sonhos, ilusões, e de como por vezes é preciso ter bom folgo para dar o passo a seguir na perseguição desse sonho.

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terça-feira, 11 de agosto de 2020

V for Vendetta (2005)

James McTeigue na minha opinião, realizou um dos filmes mais visionários de sempre, escrito pelas irmãs Wachowski Brothers. Num futuro mais ou menos distante, um regime tirano lidera a Grã-Bretanha, mas contra a sua opressão, existe um herói que se move nas sombras, em luta pela liberdade conhecido como V, que com a ajuda de uma jovem, tenta executar um golpe de estado que libertará o povo Britânico.

Parece um filme banal, com um conceito de um qualquer filme de super heróis, mas é tão mais do que isso. É um acordar para os perigos de deixarmos resvalar um dos bens mais preciosos que se tem, que é a Liberdade, para a lama da opressão. Natalie Portman e Hugo Weaving são os principais actores no centro de uma trama contra um gigantesco inimigo, que na verdade é um conjunto deles. Tem a capacidade de mexer com o público nos sítios certos, e de ser um despertar de consciência quando os discursos políticos já não encontram saídas vaiáveis.

Muita acção, a quantidade certa de drama, e frases absolutamente icónicas que fariam corar muitas punchlines do Cinema de acção e aventura, é o que se pode esperar de uma grandiosa ode à Revolução, ao espírito indomável da Liberdade, e do conceito de Democracia que este filme nos transmite, e que foi reconhecido com imensas nomeações em vários festivais de Cinema. É considerado igualmente um dos melhores filmes de sempre (injustamente esquecido pela Academia talvez devido ao seu conceito de filme de super herói), mas em bom abono da verdade, nunca será demais lembrar o 5 de Novembro.

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segunda-feira, 10 de agosto de 2020

The Big Lebowski (1998)

Se a comédia tivesse o nome de um filme, com todo o discurso orientado no sentido de criar algo que não fosse apenas genuína palhaçada, mas também uma história à volta de uma personagem que se veio a tornar icónica com os anos, aliado a um argumento extraordinariamente bem escrito pelos irmãos Cohen (que também realizaram o filme), então esse filme é O Grande Lebowski.

Os diálogos por muito simples e rudimentares que sejam, são a linguagem necessária de um filme que conta a história de como um tipo banal e pacato, que se vê confundido com um magnata com o mesmo nome, sendo que é apanhado por causa disso num imbróglio por causa de dinheiro. Por entre jogos de bowling e white caucasians, conta com os seus dois amigos mais próximos para resolver toda a confusão que se vai desenrolando ao longo do filme, junto do magnata com quem a relação não é propriamente a melhor. Cheio de frases geniais, momentos hilariantes, e uma desconcertante calma que envolve a personagem, Jeff Bridges é bem capaz de ter tido com este filme, o papel da sua vida, ou pelo menos, aquele papel que o vai marcar para sempre junto do grande público, sendo que o filme conta igualmente com as actuações brilhantes de John Goodman, e Julianne Moore.

Esta comédia teve ainda honras de nomeação em vários festivais de Cinema, o que prova que por vezes o parente pobre da 7ª arte, não é apenas um recurso a ser usado aqui e acolá em filmes de outros géneros. Pode ser em toda a sua extensão, um género por si só com enorme qualidade, e tivemos vários exemplos disso nos anos 90, exemplos esses de que falarei em crónicas futuras.

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quarta-feira, 15 de abril de 2020

Red Sparrow (2018)

Numa Europa mergulhada por num clima de tensão e de Guerra Fria, a bailarina Dominika Egorova é recrutada para a escola dos Pardais, uma organização secreta Russa, que treina as suas recrutas de forma dura, mas também de forma a usarem o seu corpo como arma para conseguirem os seus objectivos.

Francis Lawrence dirigiu um filme escrito por Justin Haythe que mostra a dura realidade do perigoso mundo da espionagem, onde toda a informação que sirva para tramar uma organização / País / em nome do poder e do dinheiro depois de um período complicado da história, era vital para qualquer negociata na sombra das instâncias políticas. Jennifer Lawrence tem um dos papéis mais desafiantes de sempre, se não mesmo o mais desafiante até agora da sua carreira, num drama onde acção e thriller dançam um intrínseco tango no fio da navalha.

É na minha opinião um dos melhores filmes de 2018, que prende imediatamente o espectador no seu clima tenso e pesado. Baseado na obra de Jason Matthews, um ex agente que trabalhou durante 33 anos na CIA, este filme sobre espionagem é baseado no primeiro livro da trilogia que viria a lançar, que tem por base alguma da sua experiência como ex agente.


terça-feira, 14 de abril de 2020

Mother! (2017)

Darren Aronofsky escreveu e realizou um dos filmes mais polémicos de 2017, sendo que a película deambula entre um misterioso drama familiar sobre uma família perfeita que vive na mais profunda tranquilidade, e um inquieto teste quando estranhos convidados começam a invadir a sua casa, passando rapidamente de um filme ameno, para um clima de horror e suspense. Sinceramente, achei um dos mais corajosos argumentos que alguma vez foi adaptado ao Cinema.

Jennifer Lawrence e Javier Bardem demonstram neste filme uma estranha cumplicidade com as suas personagens, que são levadas ao limite, sendo que Ed Harris e Michelle Pfeiffer apimentam de forma perturbadora todo o desenrolar da acção com as suas intrigantes personagens, numa viagem entre o angelical e o tenebroso mundo de uma relação conjugal. Recordo-me de que na sessão a que fui, houve gente a sair a meio do filme, ou porque não estavam a gostar do que estavam a ver (o que entendo), ou porque não estavam a aguentar a experiência emocional.

"Mother!" é um filme visceral, sem fronteiras, e sabendo de que isto pode de facto arrancar calafrios a algum público, é muito mais no seu âmbago do que um filme feito abertamente para chocar, e os vários prémios e nomeações em vários festivais de Cinema reconhecem a qualidade, que outros se amedrontaram a reconhecer naquele que considero um dos melhores filmes de 2017. Vejam se forem capazes.